quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quebrar.



Quebrar.

Ato sublime, notável, que se faz notar,
presente, cujo qual não se costuma presentear,
ao menos não aos amigos presentes, de amizade inquebrável,
inquebrável, é algo possível?

Quebrar, nos remete a um estado, de vários estados, de emoção
ou remoção, com ou sem noção do que se faz fazer,
é feito por aquele ou aquela que quebra, no sentido de quebrar,
e não de ser quebrado ou quebrada, ainda que possam, se não forem
inquebráveis, e há algo que o seja?

Quebrar é parte de uma escolha, ou posterior a escolha,
se é que seria possível,
escolher,
e agir sem que se esteja,
ainda na escolha que se escolheu,
e se a escolha foi quebrar,
ao quebrar você ainda está na escolha,
pois escolheu continuar com a ação de quebrar.

Escolhas.

Nem sempre temos escolhas.
Por vezes podemos escolher.
E muitas, são as vezes em que sabemos as escolhas,
as que escolheremos,
ou escolhemos querer escolher,
pois nos apetecem, inegavelmente.

Mas...

Até onde escolher, e escolher o que nos apetece é correto?
Até onde se pode pendurar no galho da árvore do correto,
quando o seu mundo está de ponta cabeça?

Quando há convicção, não há dúvidas.
Se há dúvidas, não se está de todo convicto.
Se não está de todo convicto, não está rígido o suficiente,
e se não está rígido o suficiente, então pode-se quebrar.

Neste momento, faço o que hoje fiz, e estou fazendo,
que é quebrar.

Ao lhe escrever, tão ávidamente, quebro o que fora dito.
Não apenas o faço, mas ao fazê-lo quebro muito do que se 
havia feito, no qual se esteve convicto.

Meus dias são vazios, mesmo sabendo que não estão.
Meu olhar é indireto, mesmo sabendo que não se desvia.
Minha linguagem é subjetiva, quase cantada em sua melodia singular, 
e ainda assim, é mais certa, direta, certeira, pontual e precisa que a mais 
perfeita combinação de flecha, mira e alvo.

E mirar, o alvo alvejado, e alvejar o que tanto lhe apetece, mas que é
em si desconcertante, conflitante a ponto de quebrar.
E os ponteiros, sempre tão amigos agora inimigos, se põem contra ti,
e o tempo, que antes vinha acompanhado, de tão bela acompanhante
agora só é amargo, triste, solitário, singelo vingativo e ele quebra,
quebra mesmo o inquebrável, 
pois inquebrável é questão de visão,
e ninguém pode mudar tanto a dona visão, quanto o senhor tempo,
que hoje é tão cruel.

Crueldade, que está presente na mais ingênua e sublime visão,
pois não há bondade que não seja de alguma forma comandante
no sangrento campo de batalha do ser humano, e que tarefa 
injusta, essa de ser humano.

O quebrar tem sua beleza, e que rara beleza,
intocável e proibida, o que a torna mais desejável,
e quando quebrado estiver, remediado jamais se tornará,
pois o que cai, ainda que se levante terá caído,
o que se levantou, ainda que tenha levantado, um dia cairá,
e aos estilhaços nascidos na terrível batalha da escolha,
escolha do quebrar, não se tornarão um, assim como o
homem ou a mulher que os tenham experimentado,
e que se com sorte quebrarem o que tanto se quer quebrar,
lamentarão eternamente a unidade que se quebrou, 
e celebrarão serenamente o prazer de um momento
singular, privativo, eterno, inquebrável.

Mas, há algo que o seja?


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